Entro no Uber, digo "Boa noite" e informo o motorista, que já sabia chamar-se Ricardo, que iam ali dois Ricardos. Como bom brasileiro, faz logo uma grande festa, logo dizendo que é Ricardo José. Eu digo que sou José Ricardo (mais um motivo de festa) e diz ele que esteve para ser também José Ricardo em vez de Ricardo José. O que faz um nome! Um nome que nada significa, uma mera etiqueta que nada diz da pessoa, mas suficiente para desde logo criar um vínculo entre dois desconhecidos tão diferentes que poderiam não aguentar uma conversa para lá dos 15 minutos que durou a viagem. Mas uma reacção normal devido à coincidência. Mas o que dizer quando se cria esse vínculo entre duas pessoas que descobrem ser da mesma religião, partido, ideologia, ou mesmo nacionalidade? Será que, ao contrário de um nome que nada significa, podem partilhar uma identidade? Não. Trata-se apenas de um instinto atávico que faz as pessoas sentirem-se partes de uma mesma tribo, de um "nós" que as distingue dos "outros", mas que enquanto indivíduos podem nada ter que ver entre si. Vendo bem, indivíduos de diferentes religiões, partidos, ideologias ou culturas podem ter mais em comum entre si do que entre indivíduos dentro da mesma tribo. Mas os tempos não estão virados para entender isso, os tempos, como noutros tempos, estão mais propícios para porcos a grunhir e roncar alegremente na sua lama tribal.