Ao contrário de Ulisses, tenho alguma dificuldade com os nomes das árvores. Daí não saber o nome das que povoam a minha rua e que agora a pintam de amarelo e de várias tonalidades de vermelho, nas copas e no passeio. É nesta época do ano que ao sair de casa ou a chegar me sinto verdadeiramente na Europa. Um sentimento espúrio, devo reconhecer, pois não é só na Europa que existem árvores assim, e porque também a Europa sofre com temperaturas escaldantes no Verão, incluindo no seu coração, que ficou politicamente conhecido como Mittereuropa. A Europa tem as quatro estações, calor e frio luxúria solar e penumbra, azul e cinzento. E foi mesmo durante o Verão que duas guerras mundiais, embora bastante europeias, tiveram o seu início. Em suma, racionalmente, não há nada que obrigue a ligar a Europa ao Outono. Mas é assim que a minha livre imaginação funciona, desejar que a Europa seja um continente outonal, a estação em que melhor reconheço as cidades europeias onde a sua história foi sendo feita. O que não falta na sua história são ribombantes momentos a fazer lembrar certas passagens de Wagner. Mas o que sobretudo consigo ver na Europa, o continente onde a história tem mais peso, é um longo e contínuo adagio através do qual um fogo, como archê heraclitiana, vai fazendo e desfazendo tudo o que nela emerge. A Europa é um continente de nascimentos mas, até mesmo por isso, é por excelência o continente das melancólicas despedidas.

Budapeste 2025










