17 novembro, 2025

MUROS


Numa exposição de arte contemporânea, nada me levou a tirar o telefone do bolso para memória futura, o habitual neste tipo de exposições. Uma excepção: este breve texto logo à entrada. A minha primeira impressão, e que logo me levou a fotografá-lo para não esquecer, foi a da sua enorme beleza. Impressão que mantenho meses depois e a qual não quero justificar pois a beleza não carece de justificação. Porém, se quisermos desconstruir o texto, resolvermos ir até ao subterrâneo húmus que fez medrar a flor, poderemos dar com um sentido latente cuja carga patológica se sobrepõe à sua força poética. A patologia de quem, descobrindo-se apenas rodeado de silêncio, chilreios ou zumbidos, de flores, árvores e cheiros bons, continua a sentir dentro da sua cabeça o peso esmagador dos muros dos quais pensara ter-se libertado.