Català-Roca | Plaza del Callao [1953]
Seja diante de que imagem for (pintura ou fotografia), mas no caso desta fotografia é especialmente apelativo, podemos dividi-la em várias camadas de interpretação, como propõe o historiador de Arte Erwin Panofsky. Neste caso, o que logo vemos são os rostos humanos de um homem a ler o jornal e de uma rapariga com um livro de B.D. Mas se numa prova cega olhássemos apenas para os seus rostos misturados com os rostos de outras pessoas a verem televisão, numa rede social, a navegarem na Internet ou a jogar no computador, não saberíamos distingui-los nem o que estariam a fazer. Os rostos atentos destas duas pessoas são os mesmo rostos atentos das outras pessoas. Mas o que se passa nas suas consciências não é o mesmo que se passa nas consciências das outras. Este homem, num tempo em que nem sequer há televisão em Espanha, e muito menos Internet, teve que se dirigir a um quiosque e gastar dinheiro para saber o que se passa no mundo, sendo o valor que dá a cada notícia o mesmo que se dá a cada garfada da comida minimalista de um chef, tal como a rapariga com o seu precioso livro. Eis assim duas consciências estrangeiras face às consciências de quem tem um rato para o infinite scroll ou comando para o infinite zapping, ou telefone, playstation, gameboy ou a própria Internet com centenas de jogos à mão de semear. Estes rostos são os nossos rostos, os humanos rostos de sempre. Mas as consciências por detrás deles já não existem, fazendo desses rostos máscaras cujo significado depende do tempo a que pertencem.
