22 outubro, 2025

NUDEZ

  «Chegou novamente o tempo dos emigrantes. Eles vinham em grupos, alguns sozinhos. Eram trazidos por caudais de água como alguns peixes em certas épocas do ano. Os emigrantes vão na enxurrada para o Ocidente, levados pelo destino. [...] Conhecem países estrangeiros e outras vidas e, da mesma maneira que eu, já despiram muita vida.» Joseph Roth, Hotel Savoy

Seria difícil aqui não pensar na queirosiana «nudez crua da verdade» sob «o mando diáfano da fantasia». Apresentar a vida como coisa que se despe remete, nalguns casos, para um strip-tease existencial, quando é a própria vida que se vai despindo diante de uns desprevenidos olhos que nada podem fazer a não ser assistir ao espectáculo. Já noutros, será a própria pessoa, com as suas inquietas e habilidosas mãos, que vai desvelando a nudez, tirando peça de roupa aqui, peça de roupa ali. Claro que as surpresas podem ser mais, ou menos, agradáveis e, muitas vezes, o que se esconde sob a roupa não é coisa bonita de se ver, como, de resto, mostra a história e as vidas de tanta gente. Tanta gente que nasce, vive e morre, e o que lhes ficou da vida foi uma nudez escondida por grossos e opacos mantos de uma fantasia que, não raras vezes, deixa também imenso a desejar.