04 junho, 2024

OS FARÓIS




É precisa uma elevada dose de boa vontade e liberdade poética para se afirmar que, aqui ou ali, a poesia esteve na rua, boa vontade e liberdade poética inspiradas no célebre cartaz de Maria Helena Vieira da Silva. Nem a poesia esteve alguma vez na rua, nem foi sequer feita para andar na rua. O mais que pode acontecer é calhar a rua passar pela casa da poesia, mas cujas portadas estão sempre meio fechadas para poder preservar o silêncio e a sombra no seu interior. A rua é a rua e a poesia é a poesia. A primeira é de todos, incluindo os poetas, que também pelas ruas andam, mas na casa da poesia só entram alguns, sobretudo os poetas. Já a maioria vê a poesia como os faróis de um carro que, ao entrar ou sair de um parque de estacionamento, ficam, por instantes, de frente para o poema, mas sem o ver.