09 junho, 2024

ELEGIA DE DOMINGO

Andando nos últimos dias com a cabeça centrada noutras tarefas, foi já muito perto do momento de votar que fui surpreendido pelo problema de saber em quem iria votar. Saí de casa determinado para o fazer, mas era na lista das compras que ia mentalmente ocupado uma vez que iria passar depois pelo supermercado. Surpreendido e, entretanto, preocupado pelo buraco eleitoral em que me vi, quis pensar em que partido tinha votado nas recentes eleições. Havia esquecido. Mas lá consegui lembrar-me, e, diga-se, com enorme alívio por encontrar essa bengala para me ajudar a decidir. Mas foi em vão, pois, logo de seguida, resolvi votar noutro partido, e até bastante diferente. A memória é sem dúvida a dimensão que tem mais peso na consolidação da nossa identidade, decisões e acções. Contudo, de um ponto de vista político, é esta falta de ligação que me torna completamente livre e independente. Para as empresas de sondagens, o pior dos pesadelos seria ter de lidar com um eleitorado assim. Em vez de multidões e de massas tão previsíveis como as quatro estações, apenas criaturas, vendo, com todos os seus olhos, o Aberto.