02 junho, 2024

O VOLANTE





Vou no lugar dela, todo contente a conduzir, e, no lugar dele, vai a minha mulher. E esta, que é rica, diz-me: «Não gosto de te ver trabalhar, podias gozar uma vida confortável, como tantos homens com a tua posição». De imediato travaria, encostava o carro à berma, abraçava-a e beijava-a enquanto dizia que a adorava e como me compreendia tão bem. Sei que muitos homens, sobretudo os que precisam de trabalhar porque disso precisam para construírem a sua identidade e a sua emancipação, iriam criticar-me pela minha perda de independência e subjugação à mulher. Isso, porque incapazes de entender que é precisamente quando não trabalho que emergem toda a minha identidade, emancipação e independência, as quais não precisam do dinheiro que iria ganhar e do que é preciso fazer de todos os dias, com o suor no rosto, para o ganhar.