01 junho, 2024

DA BOCA PARA DENTRO

Ia a caminho do pavilhão para dar aula e, pelo modo como a ex-aluna me chamou e pediu para esperar, percebi que teria de ser qualquer coisa de muito especial. Tinha acabado de comprar os poemas de Petrarca e eu, certamente com cara de parvo, sem perceber o que tinha isso que ver comigo, ainda para mais fazendo-a correr atrás de mim para mo dizer. Lembrou-me então que, há dois anos e tal, na aula de apresentação, quando chegou a vez dela, invoquei a musa de Petrarca. Associação que por graça me ocorreu fazer mas que ela não viria a esquecer. Uma pessoa abre a boca para uma espirituosa insignificância e não lhe passa pela cabeça as suas possíveis consequências, nem que cheguem dois anos e tal depois. Talvez os nossos destinos sejam muito mais marcados por insignificâncias do que podemos supor.