10 junho, 2024

A COLMEIA

Devido à hora tardia a que ia chegar, não sabia se ainda iria haver algum táxi na estação. Felizmente havia um, o do costume um pouco antes daquela hora. Foi a terceira vez com este taxista, a quem já não foi sequer preciso indicar o destino da viagem. Como quase todos os taxistas, fala pelos cotovelos, incluindo sobre a sua vida pessoal, o que já me levou a conhecer a sua vida profissional, da mulher e da filha, o facto de ter um outro emprego, sendo taxista só nas horas vagas, sobretudo de noite, para ganhar mais uns trocos, ainda que, graças a Deus, deles não precise. Enfim, gosta de dinheiro, não me sendo difícil imaginá-lo, ao fim do dia, a contar as notas com a mesma volúpia de um ilusionista ao passar o baralho de cartas entre os dedos. Devo pois ao seu exacerbado culto do dinheiro poder assim chegar à estação àquela hora tardia e ter um táxi transformado numa colmeia com rodas para me levar a casa. Abençoados vícios privados que possibilitam tais públicas virtudes.