Sento-me no táxi e, ao contrário do habitual, o taxista, ainda jovem, continua calado. Pouco depois, sentindo o peso do silêncio entre duas pessoas no reduzido espaço de um carro, resolvo elogiar o sistema de som, que exacerbava com fortes graves a batida que vinha a ouvir. Percebo que ficou contente, fazendo então vir ao de cima o verdadeiro taxista que eu esperava encontrar ao entrar no táxi. Juro que foi mesmo assim: eu falo do sistema de som e ele, nem cinco minutos depois, já tinha conseguido dar a volta à conversa para poder dizer que os africanos têm um cheiro a suor próprio, não sabendo, porém, se é mesmo da raça ou por não tomarem banho. Associação cujo radical determinismo não deixa de ser extraordinário. O banco do condutor de um táxi é o oposto do divã de um psicanalista. Enquanto este serve para uma pessoa explorar as profundezas da mente, o banco do condutor serve para confirmar a superfície da mente de quem o conduz, a qual deverá coincidir com o que também há de mais profundo. Como dizia o outro, para quem só tem um martelo como utensílio todos os problemas estão reduzidos a pregos.