21 julho, 2023

NOITE

Quando acordo às três ou quatro da manhã e passado um bocado oiço o suave ruído de um carro que passa devagar na rua, tal situação logo ganha um sentido ficcional e de mistério, pressentindo-se uma cena própria de um filme policial ou uma qualquer trama dramática. Acontece-me o mesmo no campo quando, no profundo silêncio de uma noite de Verão, ouço, muito ao longe, o ténue som de um cão a ladrar, como se vindo de um outro nível de realidade. Ficção e mistério que tanto na versão urbana como na versão campestre logo se desvanecem com a alvorada, como a luz de um candeeiro que fica acesa de dia sem ninguém dar por ela. Continua tudo na mesma, os carros a passar e os cães a ladrar, o que não continua é a escuridão e o silêncio da noite que nos fazem, se bem que acordados, mergulhar na escuridão e silêncio de nós mesmos.