Bilbau, 2022
Há cenas de filmes que nos marcam para o resto da vida. Eu tenho uma do Pulp Fiction que ainda hoje me faz arrepiar só de pensar nela, que é quando Butch e Marsellus são presos nas traseiras de uma loja. Certamente uma das mais horripilantes e sinistras traseiras da história do cinema. Daí o meu enorme susto e arrepio até bem abaixo da espinha ao entrar nesta loja, ainda para mais numa época de vingativos ressentimentos feministas em relação ao macho alfa, não sendo de menor importância o complexo estatuto que Sigmund Freud atribuiu à mulher, não à dele em particular mas à mulher em geral, e logo eu apareço ali com o azar de ser cisgénero. Que outra coisa podia fazer a não ser logo dali fugir, parando só ao chegar à rua? Foi então, já mais calmo e seguro, que me ocorreu estar numa cidade bilingue onde quase tudo aparece escrito em duas línguas. Seja como for, não ganhei para o susto e, em vez de voltar a entrar para, desta vez pavlovianamente, continuar a arrepiar-me, o que resolvi foi mesmo arrepiar caminho, apenas tirando a fotografia junto à porta antes de me atirar a dois pintxos e uma imperial.
