19 julho, 2023

INTRODUÇÃO AO CEPTICISMO

Uma reunião que durou todo o dia teve intervalo no restaurante. Havia menu com preço fixo cujos pratos principais eram bacalhau ou bochechas de porco. As cinco senhoras escolheram o bacalhau, sendo eu o único a ir para as bochechas. O que não deixou de ter impacto visual quando os pratos chegaram à mesa: cinco redondas armações de bacalhau e um pedaço de carne a destoar. Se fôssemos observados por uma pessoa que ali chegasse de um país longínquo, o espírito científico que há em cada ser humano poderia levá-la indutivamente a pensar que será habitual neste país as mulheres comerem mais peixe e os homens mais carne. E o que pensaria alguém tão português como nós? Talvez pensasse que sou um indefectível carnívoro, reforçado com o facto de havendo 5/6 das pessoas (já não mulheres) a escolher o bacalhau, é porque deverá será a opção mais sensata e, se mesmo assim, eu escolhi a carne, é porque gosto mesmo muito de a comer e será a base da minha alimentação. Acontece que a realidade é bem mais complexa e por vezes subtil do que aparenta. A pessoa que ali comia carne (excelente, por sinal) será de todas elas a que menos carne come. Que já não a comendo em casa, aproveita uma ou outra ida ao restaurante para ainda o fazer. Mas isso não está à frente aos olhos, e a cabeça, que precisa de respostas rápidas e imediatas, apresentou desde sempre uma enorme predisposição para o erro, do qual não é fácil escapar.