Não há como fugir à pergunta: o que levou esta mulher a sentir necessidade de ser fotografada? Seria para manifestar a sua excitação e entusiasmo por ir ver a exposição? Ou manifestar a sua excitação e entusiasmo por ter acabado de ver a exposição? Será uma parente afastada de Freud, que pela impossibilidade de se fotografar ao lado do familiar, resolveu algo magicamente fotografar-se ao lado do seu nome? Há muito que aprendi ser a palavra uma ausência da coisa, podendo dar-se aqui o caso de o nome surgir como um ersatz do nomeado. É verdade que o nome não sorri como a rapariga, mas também Lucien Freud não era homem de rasgados sorrisos. Um enigma, portanto. E, como diante de qualquer enigma, limito-me a especular, mesmo tendo a consciência de me estatelar no escorregadio piso do erro. Mas mesmo podendo estar longe da verdade, nisto como em quase tudo na vida, desde que vá circulando pelos caminhos da verosimilhança já me posso dar por satisfeito, ainda que por vezes possam aqueles confundirem-se com os da insânia, mas também o mesmo acontece com os da verdade. Para mim, o casal acabou de ver a exposição e, depois de tanta mulher retratada, também a mulher que ela é sentiu-se digna de ser retratada e, não menos importante, superiormente esmagada, ou abençoada, pela assinatura do pintor como se fosse um quadro. E para continuar no campo da verosimilhança, tudo indica ser o sinal de um lapso freudiano. Que por ser tanto no sentido do avô, como, não menos legitimamente, no sentido do neto, ficará naturalmente registado, para a posteridade, como um relapso freudiano.