Tem razão Matias Aires quando lembra que, de todas as paixões, é a vaidade a que mais se esconde, conseguindo até por vezes ignorar-se a si mesma. O que pode ajudar a explicá-la como sendo mesmo causa de alguns bens, sob a capa da benevolência. Daí ser uma paixão tácita e por isso também elegante. Terá mesmo o seu subtil código de etiqueta que, ao contrário de outros, não está escrito, diria mesmo que inominável, mas que a maioria percebe e aceita numa espécie de acordo de cavalheiros que se sabem vaidosos mas, ao mesmo tempo, cientes dos limites e decoro da sua vaidade.
A queda moral da vaidade dá-se quando, associada à soberba, rasga o acordo de cavalheiros, lutando para anular a insuportável vaidade dos outros. E há um veneno para atordoar a vaidade dos outros: a inveja. Vaidade e inveja são conceitos correlativos e quanto mais se deseja alimentar a vaidade, mais se deve alimentar a inveja. Não, a inveja dos outros não é coisa feia. É bela, suculenta, um néctar que refresca a minha vaidade. E que se é considerada feia será só mesmo para disfarçar a fealdade e, pior que isso, deselegância, de uma insaciável vaidade à procura de si mesma. Nem é pela marca ou pela cor, é pelo autocolante aos berros que morre o peixe.