Eu gosto do conceito ético-político de decência. Não promete o que não pode dar, mas versátil que baste para confeccionar uma refeição que não serve apenas para matar a fome. Ainda assim é um conceito demasiado sociológico para o meu gosto. E eu sou um romântico que não se satisfaz só com quadros e gráficos relativos ao IDH. Daí que, sem desfazer o conceito de decência, prefira o de conforto. Pelo qual fui visitado enquanto lia no meu sofá, pensando na arte de quem o concebeu para benefício de quem nele haveria de sentar, desviando-me da leitura para me concentrar na sensação física de bem-estar. Física, mas também psicológica. Talvez seja isso que sente o macaquinho de Harlow quando prefere a macaca de veludo à de arame que lhe dá a comida.
Como deverão as pessoas sentir-se perante um Estado no qual vivem como cidadãos e não meros indivíduos num estado de natureza anterior a qualquer ordem política? Não como diante de uma mãe protectora que lhes faz as vontades todas, os mima em demasiado fazendo delas eternas criancinhas mal acostumadas. Mas um Estado que, tal como uma boa mãe, transforme o medo e a angústia em segurança e bem-estar, e não revele mórbida condescendência ao ajudar, tratando os cidadãos como fins e dignos de respeito moral. A língua japonesa possui uma palavra, amae, para exprimir o bem-estar e alegria quando sentirmos que somos aceites, apreciados, desejados, e cujo ideograma original representa um seio com um bebé a mamar. Amae é o que todos os que se sentem pessoas de bem deveriam sentir sempre que o Estado pensa nelas, se lembra delas ou quando elas pensam ou se lembram do Estado. Vivendo e envelhecendo, confortavelmente, numa sociedade decente tal como eu no meu sofá quando nele me sento para ler, sentindo uma matinal brisa fresca a entrar pela porta da varanda.