-Não, professor - respondeu Stoner, e o tom determinado da sua voz surpreendeu-o. Pensou, com algum espanto, na decisão que acabara de tomar.
Stoner, William Stoner, tomou a decisão no preciso momento em que responde ao professor, percebendo a sua convicção pela voz. Acontece aqui o contrário da popular crença segundo a qual a decisão resulta de uma livre deliberação. Mas a única diferença é a assumida surpresa de Stoner, já que a grande maioria das nossas decisões é silenciosamente resolvida numa parte obscura da nossa consciência ou mesmo fora da consciência. E, se na maior parte dos casos, ao contrário de Stoner, as nossas decisões não causam espanto, deve-se apenas ao lento acumular de um húmus, de uma matéria orgânica inacessível à nossa consciência que nos vai preparando para o sim ou não. Que, na substância, são idênticos ao não de Stoner. A grande diferença é ele não se ter iludido com a ideia de a nossa consciência ser uma fábrica de deliberações livres e racionais, produzidas sem qualquer matéria-prima vinda do sector primário. Stoner sentiu-se apanhado de surpresa em vez de se regozijar com um ego seguro das suas convicções.
