Há dias, aconteceu-me na casa de banho de um museu o mesmo que já me havia acontecido na casa de banho de um hotel: mais do que a figura do senhor Hulot na casa da irmã ou no escritório do cunhado, sentir-me como um ratinho do Thorndike ou um gatinho do Skinner diante de um problema por resolver. Tenho uma torneira à frente mas não sei como utilizá-la. Após uma longa coreografia de um bailarino contemporâneo, lá vejo finalmente a tão desejada água a sair, mas sem perceber o que fiz para que tal acontecesse. O problema foi voltar de novo à água para tirar o sabonete. Nova coreografia, pensando já em desespero que iria sair dali com as mãos peganhentas. Consegui, mas de lá saindo com a mesma ignorância com que entrei.
Bem sei que não sou exemplo para ninguém. Sou o anti-engenheiro por excelência, não no sentido de ter alguma coisa contra os engenheiros, mas por tudo em mim estar feito para não ser engenheiro. Seja como for, esta sofisticada casa de banho não deixa de ser um bom início de conversa para perceber o que iremos ser num mundo cada vez mais complexo e tecnicamente sofisticado que aprendemos a habitar mas sem o compreender, e cujas consequências não dominamos. Tudo começou com a revolução industrial em que a mão cedeu à técnica, técnica que, entretanto, deu lugar à tecnologia. Não se trata apenas de estarmos rodeados de objectos que aprendemos a usar mas cujo funcionamento não entendemos. O próprio mundo, tanto físico como social, deixa de ser tangível, sendo apenas dominado e compreendido por alguns. E nós cada vez mais ratinhos numa gaiola, andando de um lado para o outro, em que apenas alguns conseguem encontrar a alavanca que abre a porta para a comida.