16 março, 2023

VIDA NORMAL

Fotograma de «Palladio - O Espectáculo da Arquitectura»

Imaginemos que Isaac Newton ressuscitava e, com os seus conhecimentos e capacidades intelectuais intactas, iria parar a uma aula de Física Teórica em Cambridge. Imagine-se a sua aflição e desorientação diante da explicação de uma natureza que já não é a sua. O físico e filósofo Thomas Kuhn diria que tal aconteceria devido ao facto de os novos quadros mentais, visão global do mundo, linguagem, tecnologia, ou modo de os cientistas partilharem conhecimento, ser tudo isso bem diferente. Porque, entretanto, ocorrera uma revolução que deu origem a um novo paradigma. E querer funcionar no novo paradigma com os pressupostos do anterior é como entrar num pavilhão para jogar Basquetebol, mas ainda com as regras do Andebol metidas na cabeça. Seria possível a Newton aprender a jogar Basquetebol? Sim, se, como o Orlando de Virginia Woolf, tivesse tempo para isso e sem precisar de mudar de sexo. Acontece que entre dois paradigmas há sempre um período extraordinário e algo conturbado de mudanças e discussão, bem diferente das rotinas e normalidade do período anterior. O que este professor está a dizer não tem que ver com desprezo ou desinteresse pelo futuro dos jovens. Apenas que já não tem idade para mudar, e que no pouco tempo que lhe resta será preferível viver com a sua normalidade do que perder tempo a pensar no que pensar. Como faz a medula espinal ao coordenar os actos reflexos, evitando assim que os estímulos vão ao cérebro, o que obrigaria a perder mais tempo para retirar a mão de uma panela a ferver. Estar o seu mundo a ser ultrapassado não significa que seja pior e que vá morrer enganado por não se ter convertido às novas gerações. É só um mundo diferente e tem direito a morrer com essa diferença. É bem capaz de ter razão.