Apesar da sua insignificância, a Via Caetani, em Roma, não é uma rua qualquer. Não tanto por ser onde as Brigadas Vermelhas deixaram a Renault 4L com o corpo de Aldo Moro, mas por ficar entre as sedes da Democracia Cristã e do Partido Comunista. Isto, 55 dias depois de ser raptado na manhã em que se iria selar um acordo histórico entre os dois partidos. O cadáver na Via Caetani tem, por isso, um eloquente significado: rejeição de um compromisso entre uma esquerda e uma direita para as quais o mundo não tem de ser a preto e branco, eliminando tons intermédios como o cinzento. Aldo Moro e Berlinguer, seriam, neste sentido, políticos cinzentos. Como seria cinzento George Washington diante de Robespierre, Plekhanov diante de Estaline, Manuel Azaña diante de Primo de Rivera, Friedrich Ebert diante de Adolph Hitler ou Ramalho Eanes diante de Otelo. Independentemente do que possa ser hoje a esquerda e a direita, é no centro político que se joga a sobrevivência da democracia, do Estado de Direito, da sociedade liberal. Ser de esquerda ou direita radical é muito fácil: como um bebé, basta berrar ou balbuciar sons sem especial substância, ou ver uma ameaça em cada rosto que não pertença à família. Ao contrário do que acontece com ideais revolucionários, de esquerda ou direita, o centro não é mobilizador, apaixonante, nem sendo fácil dar a vida por ele. Mas a luta pelo seu não apagamento será a mais importante das lutas políticas no futuro mais próximo. Impedir que o centro se transforme, como a via Caetani, no lugar do morto.