08 março, 2023

TRÊS CORES

Varsóvia, 2017
 

Ao contrário do que possa parecer, este edifício não será antigo, mas uma reconstrução do original. Quando se pensa em cidades europeias destruídas durante a II Guerra, são Berlim ou Dresden que vêm à cabeça. Mas foi Varsóvia a que teve o maior grau de destruição, sendo literalmente arrasada, reconstruindo-se mais tarde os antigos edifícios de acordo com os originais. Estava um frio de rachar naquela manhã de Janeiro, a neve chegaria pouco depois, e entrámos num café para nos aquecermos. Não me lembro de quê, mas alguma coisa me chamou a atenção naquele edifício, talvez a porta, e resolvi fotografar, quando, de repente, passam a uma enorme velocidade estas três cores que não ficaram para a história como as da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Disse-me uma vez um amigo alemão, esquerdista e anti-sistema, ser a sua bandeira bastante progressista e revolucionária: vermelho dos comunistas, amarelo do clássico "Atomkraft, nein danke" dos ecologistas, o preto dos anarquistas. Cantiga, para um polaco de 1939 ou 1944, difícil de entrar. Ver hoje passar aquelas três cores diante de um edifício outrora arrasado em nome daquelas três cores, é ver apenas três cores de um país vizinho e fazendo parte de uma mesma União Europeia. Mas acredito que um polaco com terríveis traumas de 1939 ou 1944, possa, pavlovianamente, ainda hoje não ganhar para o susto. Krzysztof Kieslowski, de cujo túmulo andei no dia seguinte à procura num enorme (e belo) cemitério, mas que por causa do frio e da neve tive que abandonar mais cedo, tem uma série chamada Três Cores. Fosse ele um realizador mais histórico e político, e ainda bem que não foi, e o mais certo seria, com estas três cores que passam ali de rompante, termos uma série bem diferente.