Um simpático e bastante louvável movimento de jovens filósofos chamado "Novo Realismo", veio combater a tendência pós-moderna e relativista segundo a qual a realidade não passa de uma construção social, criticar a ideia de competitividade como motor da sociedade, ou a de dividir a humanidade em nações, raças, culturas ou classes sociais. Defende, pelo contrário, a prevalência de verdades universais que podem e devem ser partilhadas por toda a humanidade.
Um deles, Markus Gabriel, lembra que a palavra alemã Wirklichkeit (realidade) contém no seu seio o pronome Wir (nós). O meu primeiro trabalho na faculdade foi sobre a Fenomenologia do Espírito, onde o conceito de Wirklichkeit é bastante relevante, podendo-se por assim dizer que foi o meu "choque de Wirklichkeit" mal acabei de lá chegar. Li-a bastantes vezes na edição Alemão-Francês, escrevi-a em notas de rodapé, e isso sem alguma vez me passar pela cabeça o pronome Wir, meio camuflado como nos desenhos onde está Wally. Daí achar graça à descoberta, mas sobretudo ao seu potencial de elevada virtude. Mas, talvez como defesa para não me elevar demasiado acima da Wirklichkeit, o que me veio depois logo à cabeça foi o título de um filme de Chantal Akerman que vi há dias: Je tu il elle. Para assim concluir que os pronomes pessoais são como a igualdade entre os homens: todos pessoais, sim, mas uns mais pessoais que outros.