01 março, 2023

M DE MARIA E DE MARTA

 


«Quando iam no caminho, Jesus entrou numa aldeia. E uma mulher, de nome Marta, recebeu-O em sua casa. Tinha ela uma irmã chamada Maria, a qual se sentara aos pés do Senhor e escutava a Sua palavra. Marta, porém, andava atarefada, com muitos serviços e, aproximando-se, disse: "Senhor, não se Te dá que a minha irmã me deixe só a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar". O Senhor, respondeu-lhe: "Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada». Evangelho Segundo S. Lucas, 10

A força desta descrição de Lucas sobre a passagem de Cristo pela casa de Marta e Maria está na força da sua dicotomia, na oposição entre dois modelos existenciais: Marta e a sua perspectiva funcional ligada à satisfação das necessidades básicas, enquanto Maria, alheada, indiferente a essas necessidades, se concentra, como diria Arquíloco sobre o ouriço, numa coisa muito importante. A fotografia (David Seymour, 1936), mostra uma mulher diante de um discurso sobre a ocupação das terras na Estremadura espanhola, durante um processo de Reforma Agrária. O rosto não engana relativamente à sua atenção e interesse no que está a ouvir. Não é Cristo que lhe fala, mas é também alguém que deseja limpar o mundo dos seus pecados, trazendo a Boa Nova da Revolução para o futuro Homem Novo que ela ainda se esforça por compreender. Esta atenta Maria de que fala Lucas, alimentando o seu espírito com o Verbo, não deixa, porém, a tarefa de Marta, usando o seu corpo para alimentar quem tem fome. As duas irmãs tão naturalmente ligadas numa unidade perfeita, como se dançassem uma com a outra nesta só mulher.