26 fevereiro, 2023

PONTOS DE EXCLAMAÇÃO

Ípsilon deste fim-de-semana traz um artigo sobre uma banda da qual nunca tinha ouvido falar, que acabou em 1998, com apenas dois álbuns publicados, embora com algumas, raras, aparições, saindo agora uma reedição, daí o artigo. Como quase sempre quando não conheço uma banda, vou bisbilhotar para perceber do que se está a falar, logo vendo se me interessa. Interessou, e envio para o WhatsApp dos filhos um link da canção In the Aeroplane Over the Sea, presumindo, creio que legitimamente, não conhecerem: o filho nasce no ano em que a banda acaba, estando a filha ainda longe de sequer sonhar que terá a sua fase Britney Spears e Cristina Aguilera por volta dos doze anos. Minutos depois, mensagem do filho: "Esse álbum é um clássico!", e envia um link com a sua canção preferida.

Eu não sei o que é o tempo. Sei que que a nossa relação com ele, que é coisa diferente, tanto pode ser um arame esticadinho no qual um ponto Y sucede a um ponto X e antecede um ponto Z, como um arame em forma de espiral ou com curvas e contracurvas aleatoriamente sobrepostas. Um torrejano que vive em 1830, fica quase circunscrito a um ponto fixo, vendo Tomar, Abrantes ou Santarém como pontos distantes, quase inacessíveis. Hoje, saindo de casa cedo, pode almoçar em qualquer ponto de Portugal ou da Europa. Os pontos no espaço, como na história de Aquiles e a tartaruga, são os mesmos, a nossa relação com eles é que mudou. Passa-se o mesmo com os pontos do tempo. Em 2023, com 62 anos, o pai descobre uma banda que termina em 1998, que o filho, que nasce nesse ano, hoje com 25 anos, considera um clássico, quando o pai, que tem 38 anos quando o grupo acaba é que, 25 anos depois, deveria tal considerar. O filho, num ponto futuro, chega a um outro que o antecede 25 anos, enquanto o pai, num ponto passado, chega 25 anos depois a esse mesmo ponto que antes lhe passou ao lado. Leibniz, o filósofo e matemático, iria gostar de viver no século XXI.