Pádua, 2022
O ex-presidente Jair Bolsonaro afirma ter, por lei, nacionalidade italiana, sendo a sua família originária de Pádua. Quer isto dizer que os seus genes andarão pela bonita, monumental e universitária cidade onde Giotto ganhou a imortalidade (não devia ser permitido morrer sem ver a Cappella degli Scrovegni), onde Galileu ou Falloppio deram aulas e estudaram Copérnico, Pico della Mirandola, Leon Alberti, Campanella, William Harvey ou, para puxar a brasa à nossa sardinha, Damião de Góis, um dos mais admiráveis portugueses de todos os tempos. Universidade que, desde o século XV apresenta o lema Universa Universis Patavina Libertas. Um português ou brasileiro lê patavina e de imediato, como cão ou gato que acaba de sentir um ruído estranho, levanta as orelhas como reacção a uma palavra que remete para ignorância ou tolice. Sucede que a palavra latina patavina tem mesmo a sua origem na cidade de Pádua, Patavium em latim, Padova em italiano, ou Padoa no dialecto local. Ainda assim, soa espúria a relação entre tão douta cidade e tão ignóbil palavra. Mas bate tudo certo. Consta que tal se deve ao facto de Tito Lívio ser de Pádua e escrever no dialecto local, de difícil compreensão para quem era de fora. Mas tudo baterá ainda com mais pertinência e propriedade se pensarmos na verosimilíssima possibilidade da frase acima apresentada ter sido escrita por um jovem padovano em cujo sangue muito naturalmente já não circularão os remotos genes de Tito Lívio, mas antes pulularão desvairamente, ainda bem vivos e frescos, os desse outro ilustre padovano que é Jair Bolsonaro.