Como diria Enesidemo de Cnossos, esse velho céptico, um perfume pode dar prazer através do olfacto mas o seu sabor é horrível. O mesmo se passa com uma flor. O facto de haver uma parte dela que corresponde ao seu agradável aroma, não significa que a flor, como um todo, se deva confundir com essa parte. Fossem as coisas mais complexas assim tão intuitivamente compreendidas, desmontando-se o todo em partes reais em vez de montar as partes em falsas totalidades, e passariam a ser bem mais simples. O nosso problema é, como ensinam os gestaltistas, a mente humana ter uma disposição natural para a ordem, a arrumação, a composição, a totalidade. O que pode ser bom em muitos casos, por exemplo, no modo como ouvimos música ou organizamos mentalmente as nossas percepções visuais, mas bastante mau em tantos outros, sobretudo quando interpretamos certas realidades ou mesmo pessoas, submetendo-nos à imperiosa força do erro que, depois de um olfacto deleitado, acaba por deixar amargos de boca.