Torres Novas, Estação Rodoviária, 2023
Não sendo grafólogo, devo à minha relação empírica com o mundo algum conhecimento na matéria. Por exemplo, desde que na escola passei a integrar turmas mistas, fui percebendo as diferenças entre a grafia masculina e feminina. Tendo ido depois para Letras, integrando uma turma esmagadoramente feminina, fui ganhando ainda mais familiaridade com os respectivas expressões gráficas. Entretanto, sendo há décadas professor, isso já equivalerá mesmo a um doutoramento em matéria de conhecimento grafológico. Daí que, ao ser convocado para corrigir exames nacionais, saiba muito bem quando estou diante da resposta de um rapaz ou de uma rapariga. Tal sabedoria, leva-me assim com uma clareza e evidência quase cartesianas, à ideia, não propriamente de uma conexão necessária, mas pelo menos de uma conjunção constante, entre o acto de desenhar bolinhas e a presença de estrogéneo e progesterona no organismo, cujo peso é neste caso bem maior do que o da mais musculada e viril testosterona. Havia mesmo casos mais radicais, creio que hoje em vias de extinção, nos quais em vez da bolinha era desenhado um coração. Como prova, bastante arcaica de resto, guardo ainda um livro de autógrafos onde abundam frases entre o encomiástico, o poético ou sinceras e comoventes promessas de amizade eterna de pessoas que nunca mais vi, onde surgem vários is beatificados por angélicas auréolas, embora sem o dourado de uma pintura medieval. Daí o mistério desta tonitruante confissão numa parede. O que terá levado este rapaz, porque de um rapaz ou pessoa que não menstrua, como agora se diz, se trata, a sentir esta necessidade de gritar ao mundo o seu assinalável feito para memória futura? De Psicologia e Grafologia pouco sei. Mas talvez o suficiente para poder juntar as duas e concluir que o mancebo perdeu uma boa oportunidade para calar a sua mão, evitando-se assim perturbar a visão de quem ali passa sem ter culpa do que outros precisam de revelar por acreditarem que podem assim melhor esconder-se.