Os alunos teriam que identificar a seguinte falácia: "Se és ateu, não és moralmente responsável". Responde um que se trata de uma petição de princípio, provando assim não fazer a mais pequena ideia do que seja uma petição de princípio, como, já agora, de quase tudo o resto, incluindo o que é ser ateu ou moralmente responsável. Uma petição de princípio é uma falácia que ocorre num argumento cuja conclusão já está implicitamente na premissa. Por exemplo: «- Sei que Deus existe porque a Bíblia o diz. - E como sabes que o que a Bíblia diz é verdadeiro? - Porque a Bíblia foi escrita por Deus e Deus não mente». Todos nós, uma vez ou outra, derrapamos numa falácia. É normal, somos humanos e nem sempre pensamos ou argumentamos com o rigor de uma máquina de calcular. Uma falácia pode ser um pequeno beliscão na inteligência mas sem ter que beliscar a inteligência de uma pessoa. Acontece que o meu aluno, no esplendor da sua ignorância e do seu disparate, sem saber como e porquê, e apesar dos zero pontos da resposta, acaba por poder ter alguma razão. Sim, por mais bizarro que seja, há quem ainda hoje, fruto de uma fétida e ultramontana idiossincrasia, consiga assumir implicitamente aquela conclusão na premissa. Se recuarmos alguns séculos, podemos ver isso como reflexo de uma visão histórica do mundo, devendo nós dar indulgente desconto a uma pobre ignorância e estultícia filhas do seu tempo. Já em pleno século XXI, mais do que um pequeno beliscão na inteligência, será reflexo da sua ausência em quem dela ficou orfã. Mal empregados zero pontos.
