Dou a aula enquanto admiro o esplendor outonal do jardim da minha escola, até que não resisto a interromper o discurso para perguntar qual o instrumento musical que melhor exprime o Outono. Consegui obter três tímidas respostas, nenhuma delas coincidente com a minha. Querendo explicá-la, dirijo-me ao computador, Internet, YouTube, para então lhes oferecer a primeira suite para violoncelo de Bach. Ouviram com muita atenção e, se ainda entendo alguma coisa de expressão facial, com sincero agrado. No final, diz uma aluna que lhe fazia lembrar mais a Primavera do que o Outono. Um dia, Schumann tocava uma peça para um aluno, que entretanto lhe diz não a ter percebido. Vai daí, vira-se de novo para o piano e volta a tocá-la. O compositor viria a ter gravíssimos problemas mentais, mas o seu optimismo ao acreditar que a música irá sempre sobrepor-se à palavra ou explicação objectiva, pode ser considerado normal em alguém que conhece e sente o poder da música. Tal como o optimismo da personagem representada por William Hurt em Filhos de um Deus Menor, quando, através de expressões faciais e gestos, julga poder explicar à sua namorada surda-muda, um dos andamentos do concerto para dois violinos e orquestra, de Bach, que tanto amava. Talvez se tenham enganado e a música continue a ser só mesmo música e a Matemática só mesmo Matemática, duas linhas paralelas que, embora relacionadas por certos compositores, para já não falar da filosofia pitagórica, seguirão os seus respectivos caminhos sem nunca se chegarem verdadeiramente a encontrar.