03 novembro, 2022

MALMKROG



Pode um mau filme ser um bom filme ou um bom filme ser um mau filme? Pode, e digo isto assim pois não sei dizer se Malmkrog é o tipo de mau filme que é um bom filme ou de bom filme que é um mau filme. Trata-se de um filme literalmente filosófico. Não no sentido em que um filme de Bergman, Tarkovski, Kieslowski ou Dreyer pode ser filosófico mas em que um ensaio, um seminário ou congresso de Filosofia é metamorfoseado em três horas e vinte minutos de filme. Mas o que começa por parecer um exercício cinematográfico bastante estimulante, vai a pouco e pouco transformando-se num suplício. Não tem que ver com a duração do filme ou com um excesso discursivo. La Maman et la Putain tem mais duração e não menos conversa e chega-se ao fim com a sensação de que poderia continuar infinitamente. O problema é mesmo o conteúdo filosófico da conversa, sobrepondo-se e, por isso, anulando a essência cinematográfica que deve prevalecer em qualquer filme, pois é disso que se trata, de um filme, e não de uma palestra, congresso ou de um ensaio para ser lido ao nosso ritmo, voltando atrás ou sublinhando se assim quisermos. Mas, por outro lado, é visualmente belo, um deslumbre para os olhos que poderia levar-nos a chegar ao fim com a sensação de que poderia continuar infinitamente. Daí haver apenas uma maneira de salvar este filme: tirar o som para não se entender o que dizem (é falado em francês), adquirir uma versão sem legendas (ou evitá-las) e ficar então três horas e vinte minutos a assistir a uma bela sessão de fotografia em movimento, ao invés de um filme verborreico diante de o qual o meu cérebro, longe da avidez estética dos olhos, implode ao fim de pouco tempo de intensa densidade filosófica.