06 novembro, 2022

LATA POR LATA

Calhou a Goya, ser agora alvo de intervenção política. Graças a Deus, nem sobre a Maja Vestida, nem sobre a Maja Desnuda, apenas a inscrição "1,5º", em tamanho grande e bem carregada, entre as duas simpáticas e inofensivas Majas do Prado. Pouco antes, tinha sido eleito Van Gogh com uma sopa de legumes, pintor igualmente agraciado com outra sopa, neste caso, de tomate. Na Alemanha, saiu para Monet um puré de batata sobre um dos seus montes de palha, o que até está bem pensado pois no fundo é tudo campo, agricultura, ou lavoura, como diria Paulo Portas, sem esquecer a importância do famoso tubérculo nesse país, que até dá nome a umas férias escolares. Uma vaga que já havia começado com dois activistas que se fizeram colar ao mais conhecido quadro de Constable, A Carroça de Feno, neste caso, não de Portugal, o qual, com a seca, já viu melhores dias. Entretanto, proporia aos activistas ambientais que, doravante, passassem antes a escolher museus de arte contemporânea. Gritariam na mesma o que têm para gritar, estapafurdiariam na mesma tudo o que têm para estapafurdiar, com a vantagem de, em muitas obras de arte, não se dar pela diferença entre o antes e o depois (basta pensar no quadro de Mondrian há 75 anos pendurado ao contrário sem que ninguém desse por isso) enquanto noutras a manifestação seria mesmo encarada, sei lá, como um happening artístico, uma instalação em movimento. Ganharia a causa e ganharia a Arte Contemporânea, sempre insaciável no que toca a novas experiências e linguagens. Poderiam começar, e seria um bom começo, por atirar sopa de tomate para cima da mais célebre lata de sopa de tomate do mundo e arredores, a qual reúne todos os ingredientes para merecê-lo.