Foi Rosa Luxemburgo a fazer a pergunta assim de maneira tão directa, mas é, pelo menos desde a Revolução Francesa, uma das questões centrais da filosofia política ou da acção política. Exemplos não faltam: de um lado, jacobinos, bolcheviques, Otelo Saraiva de Carvalho, do outro, girondinos, mencheviques, grupo dos nove. Mas pelo que vejo em mim, em pessoas da minha idade que encontro na rua ou na minha sala de professores, tão magna questão tombou na irrelevância de um não-dilema, de um não-problema, de uma não-dúvida que nem umas migalhinhas de reflexão conseguem levar de nós. Eis um raro momento histórico de clara unanimidade, de uma união de corações que batem de tal modo ao mesmo ritmo, que faria a Vontade Geral de Jean-Jacques Rousseau corar de vergonha: é a reforma, só a reforma e nada mais que a reforma, o farol que ilumina todos nós. Cento e tal anos depois, a pergunta deixou de ser Reforma ou Revolução?, para passar a ser uma outra bem mais chã e pragmática: faltam-te quantos anos? Fosse Espinosa hoje um sexagenário português, e em vez de escrever o seu Tratado sobre a Reforma do Entendimento, estaria agora a escrever um Tratado sobre o Entendimento da Reforma. Só é pena tal reforma não convergir com a de Luxemburgo. Mas sendo esta uma revolucionária, não é já de questões políticas e filosóficas que estamos a falar.