05 outubro, 2022

PANCADINHAS REPUBLICANAS




«A acção foi feita. O seu último papel foi desempenhado. Depois, mandaram o actor despir-se e desmaquilhar-se: não vão precisar mais dele.» Tolstói, Guerra e Paz

Neste caso, o alvo é Napoleão. Mas pode-se aplicar a todos os actores principais da história sempre que cai o pano sobre o palco onde actuaram. Foi também isso que pensaram os nossos republicanos, primeiro, a respeito de D. Carlos, depois com D. Manuel II, terminando as respectivas actuações depois das suas peças acabarem. O problema foi, mais uma vez, ser a vida a imitar a arte, havendo actores que, consoante as peças, tanto podem fazer de padre como de vilão.

No dia 1 de Fevereiro de 1908 ou no dia 5 de Outubro de 1910, alguns espectadores que sonhavam ser actores, saltaram de rompante para cima do palco, gritando que as peças há muito deveriam sair do cartaz e que aos actores, como nalguns filmes neo-realistas, seleccionados entre o povo da aldeia, bastaria improvisar, limitando-se a ser genuinamente eles próprios. E foram. Porém, mais de um século depois, que actores vimos representar ao nível de um Gregory Peck ou uma Ingrid Bergman no mundo da verdadeira representação? Os nossos republicamos não passaram de actores secundários ou de figurantes, mas com a mania de serem actores principais com um Oscar exibido no mõvel da sala. Um pouco mais de humildade e cepticismo naquelas cabeças e talvez se tivessem evitado algumas desgraças que nos saíram bem caras. As famosas pancadas de Molière, na sua versão republicana, nunca deixaram de se fazer ouvir durante toda a peça. E não há espectador sério que aguente tamanha barulheira. Pena foi terem sido precisos 48 anos de paroquial e beato silêncio para acalmar os ânimos.