Prado do Repouso | Porto
Eis mais um momento Fernando Pessoa, mas neste caso Fernando Pessoa mesmo, ou Álvaro de Campos, para sermos mais rigorosos. Pudesse eu comunicar com a família Costa Pereira lá no além, dir-lhe-ia duas coisas. A primeira, de natureza lógica: numa disjunção exclusiva, como é o caso, a proposição complexa só pode ser verdadeira se uma das proposições simples for verdadeira e a outra falsa. A outra, de natureza metafísica, é que a segunda proposição me parece verdadeira, o que implica então a falsidade da outra. Felizmente, e por muito dotado que eu fosse no comércio com o sobrenatural, a família Costa Pereira jamais tomaria consciência desta triste verdade. Como diria o velho e sábio Epicuro, num tempo em que os sábios pareciam todos velhos e os velhos pareciam todos sábios, o que nos safa é nunca chegarmos a coincidir com a morte pois se pensamos nela é porque estamos vivos e quando estamos mortos já não pensamos nela. E mesmo com a própria vida, digo eu, também não chegamos a coincidir por aí além, embora na maioria dos casos, felizmente, também não se pense muito nisso. Fosse eu a pegar no poema de Campos e ficaria apenas com as três primeiras palavras.