Quase tão inevitável como uma borracha cair para o chão se a largarmos foi ao ver a capa da revista Visão lembrar-me das fotografias de August Sander. Ele foi mais do que isso, mas o que tornou célebre foi a série de retratos de vários tipos sociais alemães ao longo do primeiro quartel do século passado. Embora vejamos pessoas, não foram pessoas que fotografou, mas grupos sociais: cozinheiro, polícia, professor ou agricultor. O mesmo se passa com estes jovens de um desses colégios nos quais a mensalidade pode chegar aos 2000 euros. O que sobretudo me instiga são, tanto as de ontem como de hoje, as suas consciências no momento da pose. Que certamente lhes dizem que não estão a ser fotografados porque, enquanto responsáveis pelos seus actos, se destacaram nalguma coisa que tivessem feito. No caso dos dois jovens, coisas como ganhar uma medalha desportiva, serem os alunos com melhor média a nível nacional, músicos, escritores, actores ou fazerem parte de uma organização com relevante intervenção cívica. Sabem as suas consciências que só são fotografados por serem ricos, ainda que nada tenham feito para isso, e que apenas o são porque assim nasceram, tão natural como a cor dos olhos ou do cabelo. O vestuário, decoração, contextos podem mudar, mas as consciências não mudam. As destes dois jovens não serão diferentes das dos privilegiados jovens de Sandel, ou do nobre que passava a cavalo por entre o miserável povo. O que também explica podermos continuar a ler obras do século XVI ou do século V a. C., percebendo claramente o significado do que dizem ou mostram.


 
