23 maio, 2024

NEUROCIÊNCIAS AO PEQUENO-ALMOÇO

Por distracção, deixei queimar uma parte dos flocos de aveia com o leite. Salvou-se grande parte, mas outra ficou colada, formando no fundo do tacho uma pasta viscosa e nojenta. Para não riscar o tacho com palha de aço ou não deixar a pasta entranhada no esfregão, decidi removê-la com os dedos. Fi-lo, mas com uma sensação de nojo e repugnância, o que não deixa de ser estúpido por se tratar dos mesmos flocos de aveia com leite que tinha acabado de comer com prazer. Eis uma dissonância entre duas partes do meu cérebro, uma que me explica tratar-se de uma coisa não nojenta, mas outra levada pelo péssimo aspecto da pasta, talvez influenciada por aquilo a que os neurocientistas chamam de "marcador somático". Engraçado é também poder acontecer o contrário, sendo a vida bastante pródiga em tal facto: ser levado pela visão de uma coisa atraente, mas que, pela sua natureza, e para nos proteger, deveria incutir um estado de nojo e repulsa como sinal de alerta. Daqui podem decorrer duas leituras, optimista para uns, pessimista para outros. A optimista: talvez o córtex visual do nosso cérebro continue a ter mais peso do que o córtex pré-frontal. Pessimista: talvez o córtex visual do nosso cérebro continue a ter mais peso do que o córtex pré-frontal.