Vou na rua e vejo duas pessoas a discutir. Ou melhor, dois condutores, cada um no seu carro, mandando buzinadelas um ao outro. Ora buzinava um, ora buzinava outro outro, ora com sons mais longos, ora com sons mais curtos. Um insólito diálogo, mas também é verdade que já assisti a conversas e discussões nas quais as palavras têm o mesmo valor das buzinadelas. Se virmos bem, nem certos discursos políticos escapam. As palavras servem apenas para disfarçar a natureza buzinológica do discurso, dando-lhe uma aparência racional, pois o que conta mesmo é buzinar. Entretanto, se pensarmos na crescente pobreza da linguagem que assola cada vez mais adultos, mas sobretudo os jovens, talvez o diálogo entre os dois automobilistas seja uma antevisão do modo como a humanidade irá, num futuro que não prevejo longínquo, dialogar.