18 maio, 2024

BACTÉRIAS

O fascismo e o comunismo foram dois compagnons de route do século XX que, apesar de semelhantes em muitos aspectos, estão marcados por uma diferença radical. O comunismo foi um projecto intelectual saído do papel, sendo uma clara negação da natureza humana. Mudando o que há para mudar, o mesmo tipo de mundo de papel de que falava Galileu a respeito dos que alimentavam uma visão medieval do universo. Daí estarmos livres do comunismo, porque, tal como o feudalismo, se tratou de uma moda, com o que há de convencional e passageiro em todas as modas. O fascismo também teve os seus intelectuais, mas é muito mais simples, ou seja, bem mais complexo, do que o comunismo. O fascismo não foi, nem nunca será uma questão de convenção e de moda, sendo antes uma das possíveis expressões da natureza humana, tal como a democracia liberal também o é, sendo todavia áreas tão diferentes dessa natureza como o ego e o id para os psicanalistas. Expressões que, como as do rosto quando estamos alegres ou tristes, calmos ou tensos, vão e voltam ao ritmo dos cíclicos caprichos da natureza humana. Se face ao comunismo a história nos deixou bem vacinados, já diante do fascismo nunca poderá a medicina descansar. Como os monstrinhos do célebre desenho de Goya, sempre ávidos para esvoaçar, há bactérias que são, sempre foram, resistentes, e por muito bons que sejam os antibióticos nem sempre estão preparados para lhes dar resposta.