29 abril, 2024

IMPLANTES

Não me surpreende que a chamada inteligência artificial se vá tornando cada vez mais parecida com a natural e esta com a artificial. Já faltou mais tempo para que o famoso teste de Turing se venha a tornar de muito fácil resolução: quanto mais sofisticada for a resposta, maior a probabilidade de ser dada por uma máquina, quanto mais básica e balbuciante, como nos primórdios da I.A., mais própria de um ser humano. Serei pessimista, mas tenho razões para isso: trabalho numa escola. Mas não só: também leio jornais. Ainda hoje, no PÚBLICO, o economista liberal Ricardo Arroja, lamentando os problemas com que se deparam os jovens devido aos eternos problemas da economia portuguesa, não deixa de apresentar o actual ensino em Portugal como parte do problema. Porquê? Porque «não revela a mínima sensibilidade pelas ciências de dados (programação)», as quais terão hoje a mesma importância que o Excel para a sua geração. Juízo sofisticado, muito aproximado do que viria da I.A. Ao invés do clássico «É a economia, estúpido!», ainda demasiado humano para uma máquina, trata-se de um «Ser estúpido para salvar a economia». Desígnio pouco simpático, mas vital e bastante arrojado para as futuras gerações. Como bem sabe o povo, ao que é de dados não se olha os dentes, e o pior que pode acontecer é acabarmos todos desdentados. Nada que não se consiga resolver com os novos implantes que já se anunciam. E aí então talvez consigamos ficar mais parecidos com a I.A., tornando o teste de Turing mais difícil. «É a dialéctica, estúpido!»