12 outubro, 2023

TÁXI

É um clássico: entro num táxi, digo o destino, e logo o taxista dá início à sua agreste homilia, tão previsível como uma lei de Newton, como julgo que acontecerá também entre os cabeleireiros e as suas clientes que lá vão para aprimorar o exterior das cabeças, mas sem alienar os interiores. Entretanto, por três vezes, e com a timidez e a insegurança de quem está diante de uma autoridade, resolvi também opinar e dizer de minha justiça. Em todas elas, uma, duas, três, ficou no ar, a partir desse momento, um pesado silêncio, que muito me custa suportar para além do preço da viagem. Consequência disso, passei a não mais opinar, deixando-me de modernices e fazer como na missa propriamente dita: delegar toda a homilia a quem foi incumbido por um poder superior para ilustrar os ignorantes. Verdade seja dita, muito me ajuda o destino nunca estar longe do local da partida e, graças a isso, não precisar de muito tempo para alcançar a salvação, até porque as portas dos Mercedes de estreitas não têm nada, ao contrário da que está no céu, neste caso o propriamente dito, e não aquele feito de alcatrão que piso logo antes de fechar a porta.