Vejo-me cada vez mais radicalmente moderado, condição bem longe de se confundir com a de ser moderadamente radical, contribuindo não pouco para tal diferença o facto de a primeira, ao contrário da segunda, existir, como se vê pelo meu caso e, felizmente, de tantos outros. Mas o facto de existir não invalida a sua paradoxal condição, pois quanto mais radicalmente moderado se é menos radical se é, ou seja, a condição tanto necessária como suficiente para ser o menos radical passa por ser o mais radical, radicalidade que, de resto, muito me compraz. Comprazimento que talvez se deva à romântica aura associada ao que é radical, de ser Franz em vez de Karl Moor, Jacques em vez de Antoine Thibault, Robespierre em vez de Condorcet, Otelo em vez de Eanes, Vincent em vez de Theo, Gauguin em vez de Sorolla, Maradona em vez de Beckenbauer. Comprazimento esse que, embora ilusório e falacioso por não ser nada disso, ajuda, graças à sua animada e jovial semântica, a não morrer entediado pelo peso de tanta modorrenta moderação.