A pequena fachada do palácio dos Salinas, dando para a praça, em Donnafugata, ilude a sua grandeza, não deixando adivinhar os duzentos metros que se estendem ao longo das traseiras e pelos quais, um dia, deambularam Tancredo e Angélica em absoluto estado de graça numa espécie de Éden barroco e palaciano feito de luz e penumbra. O mesmo Tancredo que dizia que palácio do qual se conheçam todas as dependências não é digno de ser habitado. Precisamente o contrário do palazzo Poli, em Roma, cuja simplicidade, que talvez o torne pouco digno de ser habitado, choca com a sumptuosa fachada aberta sobre o beco pejado de turistas fazendo selfies para o Instagram. Seria interessante assistir a um alegórico diálogo entre estes dois palácios, na mesma linha do apólogo "Relógios Falantes", de D. Francisco Manuel de Melo, uma animada e ilustradora conversa entre um relógio de cidade e um relógio de aldeia, para perceber que, apesar de muito ter mudado desde a desconcertada e aristocrática corte lisboeta do século XVII, ao fim e ao cabo, talvez vá ficando tudo na mesma.