01 setembro, 2023

DIA FELIZ

Finalmente, mês e tal depois, apresento-me ao serviço. Já mal podia esperar por este dia. Doravante, deixo de ter umas férias de um mês, para passar a ter, durante um ano inteiro, uma miríade de fins-de-semana. As férias constituem apenas uma unidade na qual são expulsos os fins-de-semana. Pelo contrário, hoje apresento-me e já estou a entrar de fim-de-semana, esse chão sagrado que as férias fizeram esquecer. E cinco dias depois, já a 8 de Setembro, um outro, e assim durante todo o Setembro, Outubro, Novembro...até Agosto, carradas de fins-de-semana, fins-de-semana em catadupa, mãos cheias de fins-de-semana, lenta e suavemente saboreados sem chegarem a encher a barriga como nesse enjoativo banquete romano que são as férias, durante as quais se vomitam dias de tédio. Ou se masca tempo, como dizia o Cioran, esse grande humorista. Beckett, que não lhe ficava atrás mas com outro sotaque, escreveu Dias Felizes, dias sem data. Sei, porém, que há um Dia Feliz que é o dia 1 de Setembro, abrindo a porta aos dias felizes que irei de novo recuperar. E não me venham dizer que isto é conversa de treta, que na volta ando a fazer Reiki, acções de formação em Mindfulness promovidas pela Junta de Freguesia, ou que agora é que me haveria de dar para ler os livros do Paulo Coelho. Nada disso. Tive durante a adolescência a minha fase dedicada à Anti-Psiquiatria. Creio ser o R.D. Laing que considerava não ser o esquizofrénico um falhado por não se conseguir adaptar à sociedade, mas um tipo cheio de sorte por conseguir não se adaptar. Ora, posso ser muitas coisas, mas esquizofrénico julgo não ser, ou se sou nunca ninguém mo disse. Mas se houver por aí alguma síndrome que explique a minha felicidade por regressar ao trabalho, quero lá saber. Desconfortável vai ser hoje enfrentar colegas com aquele ar de Perséfone no dia em que tem de voltar para o submundo, e eu todo contente com ar de Perséfone no dia em que sobe ao mundo solar, verde e florido para a parte do ano na qual vai ser feliz. Neste caso, não há dois mundos, mas uma mesma escola. O que há são estações do ano desencontradas como nos dois hemisférios e no meu respira-se melhor.