23 agosto, 2023

NIRVANAS

Um português, um espanhol, um francês ou um italiano devem sentir o mesmo quando entram de férias. Porém, mesmo que nenhum deles saiba Latim, língua que eu também não sei, quando um espanhol, um francês ou um italiano pensam em férias ou dizem que estão de férias, fazem mais jus ao seu real sentido do que um português. O Latim pode ser uma língua morta mas a palavra que dá origem a vacación, vacances ou vacanza, que remete para vazio esvaziar, vai bem mais ao âmago do que são as férias, ou melhor dizendo, do que deveriam ser, uma vez que o são cada vez menos. Entende-se assim a sua maior riqueza semântica e conceptual do que a mais vulgar origem da palavra férias, tão insossa, que me sinto isentado de a invocar. Se, entretanto, não estiver enganado ao pensar que a reforma é uma espécie de férias vitalícias, e creio que não estou, e que dura enquanto pelo menos a vida, que não é vitalícia, durar, poderei assim acalentar a esperança de que no dia em que perfizer 66 anos e 4 meses de vida, irei finalmente poder atingir o Nirvana. Isto, claro, se até lá não se der a lamentável situação de atingir aquele outro Nirvana que leva demasiado à letra o sentido etimológico de vacación, vacances ou vacanza, mas do qual também um português, que não partilha a mesma etimologia, não escapará, por muito Ómega 3, rúcula e iogurtes fortalecidos com probióticos que possa ingerir.