Karl Marx, apesar de grande leitor do bardo inglês, era um triste optimista que sonhava com uma sociedade em que depois de um dia a trabalhar na fábrica o operário vai para casa sentar-se a ler Shakespeare. Já eu, modestíssimo leitor do bardo inglês, não passo de um alegre pessimista que imagina o pesadelo que será para quem deseja sentar-se a ler Shakespeare, ter suportar um dia a trabalhar na fábrica. Ainda bem que Shakespeare não trabalhava numa fábrica e, já agora, Karl Marx, que passava os dias na British Library, belo lugar para imaginar uma sociedade em que depois de um dia a trabalhar na fábrica o operário vai para casa ler Shakespeare ou, digo eu, para a British Library ler as obras completas de Karl Marx.