05 julho, 2023

ENERGIAS ALTERNATIVAS

Tinha acabado de passar pelas casas onde Nietzsche vivera em Basileia quando, ao descer uma bonita rua a caminho da Baixa, pressinto um espectro sonoro que se vai avolumando até dar com uma enorme alcateia a vociferar cânticos marciais, uma compacta massa cujos uivos ribombavam pelas antigas pedras da cidade. Percebo então que vinham de Nice, estando ali por causa de um jogo para a Liga Conferência. Convém lembrar que Nice e Basileia nada são na Europa do futebol e que tal Liga vale uma minhoca. Porém, caminhavam e ululavam com triunfal júbilo como um exército napoleónico a caminho de Austerlitz. No seu segundo livro, Humano, Demasiado Humano, que coincidiu com o período em que morava umas ruas acima, embora escrito no Sorrento durante uma pausa, diz o jovem professor de Filologia Clássica que a guerra está tão vitalmente entranhada na nossa natureza, que quando os romanos se cansaram dela tiveram que se dedicar a batidas dos animais, combates de gladiadores e a perseguir cristãos, ou os ingleses a perigosas viagens de exploração, travessias e escaladas com fins científicos. Mas, no fundo, tudo energia do mesmo saco. Fosse escrito hoje e outros exemplos não faltariam. À noite, por graça, liguei a televisão para espreitar o jogo. Adormeci.