20 junho, 2023

SIM

Gosto de todos os frutos, mas se a partir de hoje ficasse limitado a comer só três ou quatro que pudesse escolher, seriam: dióspiros, cerejas, figos e romãs. O sabor é importante, mas há outros critérios como a textura, o modo como se desfazem na boca, ou até de natureza estética como a cor e a forma. Digamos que isto é a teoria ou, de um modo mais solene e programático, são os meus princípios. Porém, também dou por vezes comigo a comer a laranja perfeita, a maçã perfeita, o pêssego perfeito, a nêspera perfeita, a banana perfeita, a pêra perfeita, a fatia de melão perfeita, as uvas perfeitas. Quando isso acontece, não penso em dióspiros, cerejas, figos ou romãs. E se quando estou a comer a fatia de melão perfeita me perguntarem o que quero mesmo comer, direi que é mesmo essa perfeita fatia de melão e mais a outra que virá a seguir. Não se trata de trair os meus frutos preferidos ou, como diria Groucho Marx, ter os meus princípios mas se não gostarem deles arranjo outros. Antes de uma ligação à realidade através da categoria de possível, evitando estéreis, fúteis ou mesmo contraproducentes dicotomias entre o real e o ideal ou, como diria um já envelhecido filósofo alemão, entre o que é real e o que é racional. É muito bom poder dizer que não, ter a liberdade de dizer que não, o pesadelo que seria tudo isto se não pudéssemos dizer que não. Mas é sem dúvida muito melhor acordar todos os dias de manhã predispostos para dizer que sim.