12 junho, 2023

RISO E SISO

Já todos assistimos: conta-se uma anedota e, no meio dos risos e gargalhadas, haver alguém que não a percebeu, o que leva à misericordiosa missão de explicar a razão de ser da piada. Conheço bem o processo mental, tanto de quem explica, como daquele a quem é explicado, por já ter passado por ambas as situações. Quem explica não perde, nem pode perder se quer explicar, a evidência da piada que acabou de contar, mas, ao explicá-la, o seu processo mental não é o mesmo de quando está a contá-la. Sendo esclarecido, também aquele a quem é explicada, irá achar graça, mas também não da mesma maneira de quem riu logo à primeira sem explicação. Eis o que eu sinto quando me pedem para explicar por que gostei de alguma coisa. Até posso explicar, mas faço-o como quem explica uma anedota a quem precisa de ser esclarecido sobre ela. E, do mesmo modo, se aquele a quem explico pode até compreender a razão por que gostei, também não será da mesma maneira de quem gosta sem ter precisado de perceber porque gostou. Diria mesmo que quanto maior for a necessidade de explicar, maior será a evidência de que o outro nada percebeu, chegando-se assim à conclusão de que, como diante de alguém que nunca percebe as anedotas ou se limita a desenhar no rosto um sorriso amarelo, mais vale ficar calado.