Em virtude da mistura entre uma puritana sanha sanitária e uma entusiasmada obsessão por cancelar (um eufemismo para censurar), não me surpreende que, num destes dias, o poema Tabacaria passe a chamar-se O Quiosque; que em vez de ser instada a comer chocolate, a menina seja persuadida a comer iogurte magro, que é a que ficou quase reduzido o bar da escola onde trabalho, como se estivesse ela numa aula de Ciências da Natureza ouvindo os sábios ensinamentos da professora que se licenciou numa universidade e sabe pois muito bem o que ensina; e atendendo ainda ao entusiasmo que por aí medra com tudo o que seja positivo e empreendedor, passem antes a singrar os versos "Sou tudo/Serei sempre tudo/Só posso querer ser tudo/Porque tenho todos os sonhos do mundo". Ora, se o nosso tempo começou muito bem com as Luzes do século XVIII, hoje, com o culto do light, estamos como um barco que, na noite escura, é atraído pela luz do farol, como o mosquito pela lâmpada no tecto da sala.